10 agosto 2011

Participantes lotam plenária final sobre a Rio+20

Instituto Ethos faz parte da Comissão Nacional da Rio+20 e sistematizará os principais temas sugeridos pelo setor empresarial e pela sociedade civil

André Corrêa do Lago (esquerda): “Rio+20 é grande oportunidade para o desenvolvimento sustentável” | Foto por Márcio Bulhões

Quase 20 anos após a Rio 92, participantes da Conferência Ethos 2011 refletem sobre expectativas, oportunidades e desafios a serem levados para o Rio de Janeiro em junho de 2012, na Rio+20. E a corrida é contra o tempo. Afinal, em 1º de novembro, a Comissão Nacional da Rio+20 deverá entregar à Organização das Nações Unidas (ONU) um documento com os principais temas e propostas para a transição para a economia verde.

O Instituto Ethos, a Confederação Nacional da Indústria (CNI), a Confederação Nacional da Agricultura (CNA), e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) são as organizações da sociedade civil que ficaram com a responsabilidade de levar os anseios do setor empresarial e da sociedade para a Comissão Nacional da Rio+20. Em janeiro do ano que vem, começará a fase de negociação dos documentos elaborados e que serão – ou não – aprovados na Conferência da ONU.

O embaixador André Corrêa do Lago, diretor do Departamento de Meio Ambiente e Temas Especiais do Ministério das Relações Exteriores, acredita que a “Rio+20 é a grande oportunidade de criação de um modelo novo de desenvolvimento sustentável”. Mas destaca que se trata de uma Conferência das Nações Unidas e, por isso, tem regras a serem seguidas. “O Brasil preside a Conferência e, por conta disso, terá grande influência. Mas vale ressaltar que é uma conferência de desenvolvimento sustentável e não para tratar da questão ambiental isoladamente”, afirma Lago.

A dinâmica da economia mundial está sendo ditada por países em desenvolvimento. Neste sentido, segundo o embaixador, “países precisam decidir em consenso como nós vamos avançar na direção da sustentabilidade nos próximos anos. Então, podemos entender que é ‘Rio+20’ no sentido de 20 anos apontando o futuro”. A tarefa não é simples. Uma economia inclusiva, verde e responsável que se impõe ao mundo em razão dos desafios ambientais e sociais deve orientar-se por valores éticos e inovação, fatores considerados estratégicos.

O embaixador acredita que a Conferência será um espaço para avançar no conceito de desenvolvimento sustentável. “Considero três dimensões relevantes: o processo preparatório brasileiro para a Conferência; o papel internacional do Brasil (contribuições do setor privado e da sociedade civil darão legitimidade ao que o país vai defender na Conferência) e o resultado esperado (serão documentos, convenções, decisões).”

Pavimentando o caminho

A coordenadora interina do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) no Brasil, Elisa Tonda, entende que o “processo e a Rio+20 não são um fim em si mesmo, mas uma excelente oportunidade para definir caminhos, atores e medidas práticas e claras para alcançar o desenvolvimento sustentável”.

A diretora do Pnuma no Brasil apontou iniciativas como o Fundo para Proteção da Água, do Equador, o Programa de Pagamento por Serviços Ambientais, da Costa Rica, e a Agricultura Orgânica, de Cuba. “A economia verde é fundamental para a redução da pobreza por proporcionar oportunidades econômicas sem comprometer os recursos naturais”, afirma Elisa. Para ela, a transição para a economia verde exige investimentos de curto prazo que vão gerar benefícios sociais, ambientais e econômicos em um tempo mais alongado.

Para atingirmos a visão de uma economia inclusiva, verde e responsável, será necessário desenvolver um conjunto de ações que farão parte de uma ampla agenda nacional e suprapartidária. Esta agenda deverá ser construída em um abrangente processo de mobilização social que envolva as principais forças de mudança.

“Pode ser utópico, mas eu acredito que o Brasil tem condições de ser ousado e propor caminhos em direção ao desenvolvimento sustentável”, afirma Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos.

(Envolverde)

A atmosfera da Copa e o ar da cidade



por Reinaldo Canto*

São várias décadas de obras privilegiando a ocupação dos espaços vistos apenas como boas oportunidades de negócios.

A atmosfera da Copa e o ar da cidadeA realização da Copa do Mundo e a qualidade do ar de São Paulo seriam temas distintos, caso não tivessem um encontro traçado pelo destino. E, neste momento, não me refiro à densa névoa que cobre os preparativos para a Copa do Mundo, cercados de mistério e de negociações nebulosas que deixam o ar irrespirável. Na verdade, ambos os assuntos deverão ser discutidos por nativos e turistas daqui a três anos em 2014, afinal nesta mesma época, os problemas que afetam as condições atmosféricas deverão estar ainda piores do que as registradas nos últimos dias.

A triste combinação entre frio, ar seco e poluição já é responsável por um aumento de 62% nas internações na capital paulista, conforme noticiado pelo Jornal da Tarde, no dia 18 de julho. Fatos não raros que se repetem ano após ano, inclusive com registros de mortes diretamente ligadas aos crescentes e inaceitáveis índices de poluição do ar. E, infelizmente, a população não pode contar com ações realmente sérias do poder público para ao menos reduzir as suas principais causas.

Tais problemas, é claro, não surgiram recentemente. São várias décadas de obras privilegiando a ocupação dos espaços vistos apenas como boas oportunidades de negócios. Faltaram e continuam faltando planejamento e bom senso. Resultado: mais poluição e menos qualidade de vida.

Se hoje já contamos com mais de sete milhões de veículos circulando por nossas entupidas ruas, a entrada de mais de mil novos carros emplacados diariamente na cidade só faz imaginar que durante a Copa os problemas serão multiplicados. Mesmo com automóveis menos poluentes, não é possível imaginar que teremos em 2014 um ar mais puro para respirar.

O ritmo frenético dos lançamentos imobiliários é outro fator que colabora para piorar as condições climáticas, ao eliminar áreas verdes para a subida indiscriminada de espigões. Uma troca nefasta de árvores que absorvem gás carbônico deixando em seu lugar uma cidade mais impermeabilizada e cinza. Uma equação bastante simples e óbvia que agrava os casos de enchentes e aumenta a sensação de calor no verão. Já nestes dias de inverno, entre outros problemas, contribui para dificultar a dispersão de poluentes.

Tempo existe para mudar esse estado de coisas e alterar o caminho de São Paulo rumo a um desenvolvimento mais sustentável. Mas é preciso que, restando três anos para a abertura da Copa do Mundo, nossas autoridades pensem e respirem profundamente, com cuidado para não se intoxicarem, e comecem já a agir em prol da cidade para as pessoas. Mais transporte coletivo e mais áreas verdes serão muito bem-vindas. Afinal, com Copa ou sem Copa, os milhões de habitantes de São Paulo vão permanecer por aqui, vivendo e respirando, quem sabe, ares melhores num futuro próximo.

* Reinaldo Canto é jornalista, consultor e palestrante. Foi diretor de Comunicação do Greenpeace e coordenador de Comunicação do Instituto Akatu. É colunista da revista Carta Capital e colaborador da Envolverde.
** Publicado originalmente no Jornal da Tarde.

Blog: cantodasustentabilidade.blogspot.com
Twitter: @ReinaldoCanto

09 agosto 2011

Modelo econômico exige uma nova governança

Desafio para nova economia passa pela instituição de uma sociedade justa e sustentável

Frente à atual crise, debatedores da mesa-redonda “Governança na nova economia”, realizada no primeiro dia da Conferência Ethos 2011, apontaram que, para se instituir um novo modelo econômico, é preciso promover as condições para que todos os agentes da sociedade possam ter acesso aos processos de tomada de decisão e gestão do desenvolvimento, em especial com base na sustentabilidade.

Diante deste cenário, há mais questionamentos do que respostas. Para Oded Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos, os desafios de uma nova economia perpassam pela reversão da desigualdade e estruturação das bases para uma sociedade justa e sustentável. “As prioridades dos tomadores de decisões não refletem os anseios da sociedade”, disse.

Gilberto Carvalho: “Precisamos ampliar as formas de participação neste novo modelo democrático” | Foto por Márcio Bulhões

Governança se refere ao conjunto de iniciativas, regras, instâncias e processos que permitem às pessoas, por meio de suas comunidades e organizações, exercerem o controle social, público e transparente, das estruturas estatais e das políticas públicas, com vistas a atingir interesses comuns.

Ao falar da importância e do papel da sociedade na instituição de uma nova governança, o ministro chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirma que “é preciso dar cidadania àqueles que não tiveram no passado os seus direitos básicos”.

Para validar sua explanação, Carvalho citou a realização de 73 conferências nacionais, instrumentos de debate com a sociedade para a fomentação de políticas públicas. “O envolvimento da sociedade com as instâncias, processos e ferramentas de planejamento, gestão e tomada de decisões, nas mais diversas esferas, passa pela fomentação de políticas públicas de inclusão e diálogo social”, afirma o ministro.

Segundo Odilon Faccio, diretor do Instituto Primeiro Plano, o “Estado possui o papel de induzir e legitimar os anseios da sociedade no processo de consolidação da nova governança e de uma nova economia”.

Desafios

Adotar mudanças estruturais, ações e políticas públicas que reflitam os interesses da sociedade são os principais desafios da nova economia. Durante o debate sobre a nova governança, questões como transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa foram citadas como elementos estruturais para a consolidação de uma economia que considere os anseios da sociedade.

“Uma nova economia é uma construção social integrada com intenções já definidas”, afirmou Aron Belinky, coordenador de Processos Internacionais do Instituto Vitae Civilis, ao falar que não é possível desatrelar a questão econômica da governança. Para ele, é preciso enxergar na crise a oportunidade de reconstruir um modelo econômico que não cometa os erros do passado.

O grande desafio da economia verde é promover um sistema que esteja baseado nas necessidades humanas e não no acumulo de riquezas e lucros. “É necessário pressionar os governos e as empresas, bem como pressionar a sociedade para que sejamos consumidores conscientes e responsáveis”, destacou Chico Whitaker, membro da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

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Nova economia depende de inovação de mentalidade

Evolução depende de escolhas feitas ao longo do caminho

Inovar, ser competitivo, ter lucro e ao mesmo tempo ser responsável, estar preocupado com questões sociais e ambientais. O setor empresarial está cercado de desafios. Desafios no curto, médio e longo prazos, segundo os debatedores da mesa-redonda “Inovação para a Sustentabilidade”, durante a Conferência Ethos 2011.

“A inovação para a sustentabilidade depende do modelo mental. Está para além da inovação tecnológica, exige inovação de mentalidade”, afirmou o professor da Fundação Dom Cabral Cláudio Boechat. Segundo ele, os países mais inovadores são aqueles que têm setores públicos norteando o mercado. Nesses países, “é o governo que puxa o barco e não o setor empresarial. O desempenho da administração pública é fundamental para inovar com sustentabilidade e, neste sentido, é fundamental que se tenha políticas como a de Resíduos Sólidos”, avalia Boechat.


Cláudio Boechat, da Fundação Dom Cabral: governos norteiam o mercado em países mais inovadores | Foto por Fernando Manuel
Boechat acredita que, no geral, as empresas estão inovando, mas deixam a desejar quando o assunto são os temas mais urgentes da realidade brasileira. “Saúde, educação, habitação, segurança são temas que carecem de inovação. Por isto, digo que é preciso mudar a mentalidade empresarial para o que costumamos chamar de liderança mentalmente responsável”.

Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), acredita que o desenvolvimento sustentável é nada mais que a competitividade ao longo do tempo. “Empresas que adotam a sustentabilidade têm mais chances de se manter no mercado”, afirma. Para ele, esta política tem uma relação direta com a perenidade do negócio. Assim, o Sebrae está construindo uma grande rede de capacitadores, responsáveis por levarem o tema para dentro das empresas.

O diretor executivo da Fundação Nacional da Qualidade (FNQ), Ricardo Correa Martins, acredita que a grande transformação cultural é a única chance de reverter a situação de crises – ambientais, sociais e econômicas – que vivemos. “Nossa capacidade de organizar e gerir esses processos é o que faz a diferença. Crises são falhas na gestão. O grande desafio é como organizar para gerir essa transformação para a sustentabilidade”, analisa.

Fernando Reinach, biólogo e sócio gestor do Fundo Pitanga, vê a inovação tecnológica como uma faca de dois gumes. “As coisas que a gente mais preza são as que trouxeram a gente aqui, que deram o sentido ao que vivemos hoje”, explica. Inovar para a sustentabilidade, segundo ele, é algo que depende muito das opções que fazemos, “depende da gente se liberar desse instinto animal de consumo exagerado e isso, do ponto de vista biológico, não é normal, mas racionalmente é”.

A inovação permite ao homem escolher que rumo seguir. Cada nova tecnologia abre um leque de opções. “Mas, a inovação em si vai continuar sendo uma faca de dois gumes, o que diferencia são as escolhas”, finaliza Reinach.

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Novos padrões de produção e consumo para a sustentabilidade

A responsabilidade de se fazer um novo caminho deve ser compartilhada

A necessidade de se criar novas maneiras de produção e consumo é um dos maiores desafios no caminho para uma sociedade mais sustentável. Este foi o tema da mesa-redonda “Novos padrões de consumo para a sustentabilidade”, no primeiro dia de Congresso Ethos 2011.

A mesa debateu principalmente sobre como será possível pavimentar esse caminho por diversas frentes diferentes. O principal debate girou em torno de quem é o protagonista dessa mudança: se o consumidor, as empresas ou o governo.

Para Samyra Crespo, secretária de articulação institucional e cidadania ambiental do Ministério do Meio Ambiente, o ideal não é esperar pela formação de políticas públicas sobre o assunto. “Só podemos mudar comportamentos de consumo pelo exemplo. Não podemos pregar algo que não fazemos. Daí a importância de refletirmos sobre antigos hábitos”, refletiu Samyra.

E para se construir novos hábitos, o consumidor deve perceber o poder transformador que tem nas mãos ao adquirir uma mercadoria, ensina Helio Mattar, presidente do Instituto Akatu pelo Consumo Consciente.

Modelos de produção

O diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos do Dieese, Clemente Ganz Lucio, por exemplo, propôs que empresas e trabalhadores se organizem de forma diferente. “Se articulando no local de trabalho e decidindo formas mais adequadas de produção, podemos transformar os trabalhadores em sujeitos políticos”, sugeriu.

Consumo excessivo

Mesmo sabendo que cada agente – sociedade civil, governo e empresas – tem o seu papel e sua relevância para tornar o consumo e a produção cada vez mais sustentáveis, “o crucial é que o consumo deixe de ser um fim em si mesmo e se torne uma ferramenta de escolha”, afirmou Tasso Azevedo, moderador da mesa e consultor de questões de clima, florestas e sustentabilidade.

Mudanças na economia

Entre as maiores mudanças percebidas na dinâmica econômica está a inclusão de parâmetros socioambientais no balancete das empresas. Como exemplo, temos o impacto do furacão Katrina no número recorde de indenizações pagas pelas seguradoras americanas. E a criação de fundos de investimentos com parâmetros verdes, que representam 1% dos investimentos, mas já apontam para a mudança nesse setor tradicional da economia do business as usual.

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(Ethos/Envolverde)

Propostas para uma nova economia começam a ser discutidas

Ministros de Estado participam dos debates que levarão a sugestões para a Rio+20

Começou nesta segunda-feira, 8 de agosto, a Conferência Ethos 2011 que, este ano, traz novidades: o conteúdo foi estruturado com a participação de 35 organizações de vários segmentos da sociedade e as discussões abordam temas da “economia real”, que mexem com a vida cotidiana de todos os brasileiros e são estratégicos para a transição para uma nova economia, includente, verde e responsável. O tema é “Protagonistas da Nova Economia Rumo à Rio + 20”, e a programação abrange todos os assuntos estratégicos para o desenvolvimento sustentável, de governança a energia, passando por direitos humanos, infraestrutura, resíduos sólidos, integridade e educação, entre outros.

A importância do debate promovido pelo Ethos pode ser avaliada pela presença maciça de ministros: cinco deles vão participar, nos dois dias de Conferência, de mesas-redondas e painéis. Em entrevista, o vice-presidente do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, traça um panorama da Conferência.

O que esperar dos debates que vão até amanhã? Será possível apontar um caminho para a transição a uma nova economia?

Justamente porque deseja ser “protagonista da nova economia”, esta Conferência também traz outra novidade: vai recolher propostas dos participantes para compor dois documentos: um, com propostas nacionais, será entregue ao governo federal; outro, de cunho internacional, será apresentado durante a Rio + 20, que acontecerá em junho de 2012.

A intenção é recolher todas as propostas feitas. Para dar conta desta tarefa, a Conferência conta com o suporte da SAP. A companhia desenvolveu um sistema especial que armazena todas as propostas em um servidor. O participante que tiver alguma proposta vai até um dos totens espalhados pela Fecomércio, onde se realiza o evento, digita sua proposta no computador, salva e pronto: ela está arquivada e será analisada quando o documento for elaborado. Depois do fim da Conferência, as propostas poderão ser feitas via site do Instituto Ethos (www.ethos.org.br).

Ao final da plenária de abertura, pela manhã, já houve propostas sendo feitas a partir do tema discutido: “Nova economia, includente, verde e responsável”. Com a moderação de Ricardo Abramovay, representantes das seis empresas parceiras do Ethos expuseram suas visões a respeito dos avanços e gargalos dos diversos setores da economia. Esta plenária serviu de “introdução” aos diversos temas que serão desenvolvidos nas próximas atividades da Conferência. As empresas parceiras do Ethos são Alcoa, CPFL Energia, Natura, Suzano, Vale e Walmart.

Na parte da tarde, estão ocorrendo três mesas-redondas, debatendo três assuntos estratégicos para o desenvolvimento sustentável no país e no mundo também.

Nessa primeira parte, as mesas têm três ou quatro representantes de setores sociais que apresentam seus pontos de vista sobre o tema da atividade. Em seguida, outros três ou quatro representantes de outros setores dialogam sobre as ideias trazidas na primeira parte e tentam encontrar propostas comuns para os desafios reconhecidos.

Na outra parte da tarde, a partir das 16h30, haverá painéis temáticos, nos quais três ou quatro especialistas de um tema expõem suas ideias sobre as estratégias para fazer avançar o assunto tratado no rumo da sustentabilidade.

Há dois ministros participando das atividades de hoje.

Na mesa-redonda 1, o tema é “Governança na nova eocnomia” e lá está presente Gilberto Carvalho, ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, que discute, com seis interlocutores, sobre as mudanças que se fazem necessárias para desenvolver uma economia includente, verde e responsável; quais os avanços que já podem reconhecidos nessa direção; quais os gargalos que devem ser transpostos; e quais as propostas e sugestões para a construção de uma agenda de transição com vistas às mudanças desejadas. Os palestrantes desta mesa são Daniela Mariuzzo, do Rabobank; Odilon Faccio, do Instituto Primeiro Plano; Aron Belinky, da ISO 26000; e Carlos Eduardo Lessa Brandão, da GRI.

O ministro Gilberto Carvalho, Chico Whitaker, do Fórum Social Mundial, e Gilberto Mifano, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, fazem o diálogo com as ideias apresentadas. O moderador é Oded Grajew, presidente emérito do Instituto Ethos.

No painel temático 2, sobre Direitos Humanos, participa a ministra Maria do Rosário, da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Ela faz um balanço sobre os avanços havidos no tema e os gargalos que devem ser transpostos, além de comentar as propostas de sua pasta para a construção de uma agenda de transição para uma economia verde, includente e responsável. Também participam do painel José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares; Juliana Gomes Ramalho Monteiro, do Grupo de Trabalho Empresas e Direitos Humanos; Liesel Filgueiras, da Vale; e, como moderador, Antonio Jacinto Mathias, da Fundação Itaú Social e do Instituto Itaú Cultural.

Outros destaques deste primeiro dia são as duas mesas-redondas 2 e 3.

Na mesa-redonda 2, discute-se o tema “Novos padrões de produção e consumo para a sustentabilidade” , com a presença de Samyra Crespo, representando o Ministério do Meio Ambiente, para discutir o tema sob o ponto de vista do Plano Nacional de Produção e Consumo Sustentável. Estarão com ela representantes do Dieese, do Idec, do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), do Núcleo de Estudo do Futuro da PUC-SP, do Instituto Akatu e do Walmart Brasil.

Na mesa-redonda 3, com o tema “Inovação para a Sustentabilidade”, vão ser discutidos novos modelos de negócio, novos formatos de financiamento da inovação, o potencial brasileiro para a inovação tecnológica e as políticas públicas de fomento à inovação. É bom ressaltar que o relatório da Unesco sobre Ciência, divulgado em novembro de 2010, afirma que, se o Brasil continuar a avançar em inovação na velocidade que vem apresentando na última década, levará 20 anos para chegar ao estágio de hoje dos países europeus. E que, para alcançar a OCDE, o investimento privado em P&D precisaria crescer dos atuais US$ 9,5 bilhões para US$ 33 bilhões. Estão presentes Ricardo Correa Martins, da Fundação Nacional da Qualidade; Claudio Boechat, da Fundação Dom Cabral; Carlos Alberto dos Santos, do Sebrae; e Sérgio Mindlin, presidente do Conselho Deliberativo do Ethos, como moderador.

Nos painéis, as discussões serão sobre os impactos de um novo Código Florestal, o financiamento da nova economia, matriz energética e fontes renováveis no Brasil.

Amanhã (terça-feira, 9 de agosto), teremos as presenças de mais três ministros:

- Izabella Teixeira, do Meio Ambiente, para discutir as mudanças climáticas e os impactos na nova economia;

- Tereza Campello, do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, para debater o papel das empresas no estímulo ao empreendedorismo e na ampliação de oportunidades de trabalho e renda para o público do programa Brasil sem Miséria.

- Jorge Hage, da Controladoria Geral da União, para participar do painel Integridade e Transparência que vai tratar das políticas públicas e dos principais mecanismos utilizados pela sociedade civil para aumentar a transparência no Estado, nas práticas empresariais e no combate à corrupção.

Também haverá painéis sobre Biodiversidade, Cidades Sustentáveis, Educação, Empregos Verdes, Gestão da Água, Infraestrutura e Resíduos Sólidos.

Para encerrar o evento, uma grande plenária sobre a Rio+20, que vai refletir sobre as principais propostas feitas durante as várias atividades da Conferência. A partir dessas propostas, serão elaboradas as recomendações que vão constituir um documento dos participantes e parceiros da Conferência, endereçado à Rio+20.

Serão dois dias de muitos debates e de um mergulho profundo dos grandes temas estratégicos da economia brasileira. Há assunto para vários programas.

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(Ethos/Envolverde)

O caminho de mudança da economia real para um modelo abrangente

Para especialistas, Brasil tem grande oportunidade de promover a virada ainda nesta década

“Precisamos discutir a economia real e propor conteúdos. A partir dela, criar um programa de transição da economia nacional, nos moldes como ela é hoje, para uma economia includente, verde e responsável”. Esse foi o desafio apresentado pelo diretor executivo do Instituto Ethos, Paulo Itacarambi, ao dar as boas-vindas aos mais de 900 participantes da Conferência Ethos 2001, intitulada “Protagonistas de uma nova economia – Rumo à Rio+20” na abertura realizada na manhã desta segunda-feira, 8 de agosto.

Ao dar início à Plenária 1 – “Nova economia: includente, verde e responsável”, Jorge Abrahão, presidente do Ethos, disse que “podemos interpretar como histórico o atual momento que o Brasil atravessa. E, diante dos desafios que se colocam, era preciso ir além. O Ethos está propondo justamente uma plataforma pela qual as empresas devem atuar em conjunto para a transição para uma nova economia”. O presidente do Conselho do Instituto Ethos, Sérgio Mindlin, compartilhou o mesmo desafio: “Nesta década precisamos fazer a virada para a nova economia. Temos de nos comprometer em nossas empresas, em nossos governos, em nossa sociedade para avançar nesta direção”.

Tendo como moderador Ricardo Abramovay, professor titular da Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP), a discussão da plenária especial percorreu necessidades, desafios e oportunidades para o Brasil sob a perspectiva da articulação de um projeto de desenvolvimento sustentável, para o qual esta Conferência Ethos 2011 busca contribuir.

Executivos das seis empresas parceiras institucionais do Instituto Ethos (Alcoa, CPFL Energia, Natura, Suzano, Vale e Walmart) e o secretário executivo do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, Ronaldo Motta, expuseram visões diferenciadas e complementares sobre avanços necessários e os gargalos que devem ser enfrentados pelos diversos setores da economia.

Os debates buscaram encaminhar subsídios à Rio+20, que acontecerá em junho de 2012, consolidados por uma comissão nacional da qual faz parte o Instituto Ethos. Ao formatar o Congresso como fonte de propostas a serem encaminhadas à Rio+20, a direção do Ethos pretende tomar parte no que se refere à construção de uma plataforma capaz de fazer a transição da economia real para a “economia verde”, que integra as dimensões ética, justa e socialmente responsáveis, aliada à indispensável transparência democrática.

As palestras dos representantes das empresas tiveram como ponto de partida as indiscutíveis limitações de recursos ambientais do planeta. A visão das mudanças necessárias para encarar o quadro global se apoia na avaliação de que a mudança pode ser tratada como oportunidade de negócio, ao reconhecer que são numerosos os exemplos que autorizam considerar plenamente viável a economia verde, desde que todos os atores envolvidos – governos, empresas e sociedade – cumpram seus respectivos papéis.
Sem volta – No caso específico do Brasil, como destacado pelo secretário Ronaldo Motta, “o crescimento não é sequer uma opção. Trata-se, isto sim, de um processo inexorável”. Ele destacou que a relação sociedade-natureza precisa ter repensado o modelo de ciência que nos ensinou exatamente a ultrapassar limites. Agora, o que se demanda de inovação deve reconhecer a finitude dos recursos naturais, e a necessidade de consumir menos energia e insumos para cada unidade de produção que vise o bem-estar da sociedade.

O moderador Ricardo Abramovay acentuou, a propósito, que essa transformação deve reposicionar a ética no centro da ciência econômica, como defende o Nobel de Economia Amartya Sen. “Afinal, o que precisamos perguntar é: ‘Para que produzimos riqueza? Qual o sentido do crescimento econômico?’”. Ao tocar na grave questão da desigualdade, Abramovay deu início ao ciclo de questões colocadas para a plateia, que respondeu em tempo real a várias delas como forma de apoiar o conjunto de propostas que o Ethos pretende encaminhar à Rio+20. Uma delas, de caráter abrangente, questionou se “é viável os serviços ecossistêmicos serem colocados no centro da estratégia das empresas”. Diante dos enormes desafios que a pergunta induz, a plateia, formada em grande parte por representantes de empresas, ficou dividida.

Todo este raciocínio expõe os propósitos desta Conferência, com abordagem dos temas que nos posicionarão neste novo momento histórico como nação: identificação de “gargalos”, contradições, desafios e potencialidades para apontar caminhos em direção a processos renováveis, de mobilização para a inovação e um novo modelo de desenvolvimento para o Brasil.

(Envolverde)