E quem disse que o custo de instalação de um projeto como esse só seria possível com recursos públicos? Se houvesse vontade política para promover inovação tecnológica no setor energético usando o novo Maracanã como garoto-propaganda, seria perfeitamente possível sondar o interesse de grandes empresas com know-how em energia solar que aceitassem instalar os equipamentos fotovoltaicos a custo zero, sem ônus para o governo. E o que essa empresa ganharia em troca? O direito de explorar a imagem do Maracanã como “estádio solar” graças à tecnologia oferecida pela empresa.
31 outubro 2011
Novo Maracanã já nasce velho
André Trigueiro*
O projeto do novo Maracanã confirma a exclusão de um item absolutamente
importante para que qualquer projeto de engenharia do gênero possa ser chamado
de “moderno e sustentável”. Apesar do variado cardápio de estádios de futebol
espalhados pelo mundo com aproveitamento energético do sol, a caríssima obra de
reconstrução do Maracanã – quase 1 bilhão de reais – ignorou essa
possibilidade.
Estranho que isso tenha acontecido num país onde o sol brilha em média 280
dias por ano. Ainda mais estranho que isso tenha acontecido na cidade que sediou
a Rio-92, que vai sediar a Rio+20, e que está situada na mesma faixa de
exposição solar que Sidney, na Austrália, que se notabilizou por realizar os
primeiros Jogos Verdes da História, inteiramente abastecidos de energia
solar.
Cobri como jornalista os Jogos de Sidney em 2000 e lembro-me das imensas
estruturas com placas fotovoltaicas que captavam energia solar para iluminar as
competições no estádio olímpico, no Superdome e em todas as instalações
esportivas. A Vila Olímpica com 665 casas se transformou no maior bairro dotado
de energia solar do planeta. O porta-voz do Comitê Olímpico Internacional, o
australiano Michael Bland, justificou assim os investimentos em energia solar:
“Queremos fazer com que a energia solar se torne popular em todos os países. É
ridículo que, na Austrália, todas as casas não usem um captador de energia
solar. Temos os telhados, temos o sol, e os desperdiçamos. É um jeito estúpido
de levar a vida”.
Que estupidez a nossa desperdiçar a imensa área das marquises do novo
Maracanã – quase 29 mil metros quadrados – que poderiam abrigar um vistoso
conjunto de placas fotovoltaicas capazes de gerar energia elétrica para até
3.000 domicílios. O custo varia de dez a vinte milhões de reais, dependendo da
tecnologia empregada. Alguém poderá dizer: “É caro demais! Não vale a pena”. Mas
será que a forma usual de comprar energia está valendo a pena?
Vivemos num país onde, segundo o IBGE, a tarifa de energia elétrica subiu
mais do que o dobro da inflação oficial nos últimos 15 anos. A opção pelo solar
– embora mais cara – oferece como vantagem a amortização do investimento em
alguns poucos anos.
Alguém poderá dizer que a nova marquise – mais leve – poderia não suportar as
tradicionais placas fotovoltaicas. Pois que se pensasse numa estrutura
compatível. O que está em jogo é a possibilidade de tornar o estádio útil mesmo
em dias que não aconteçam partidas de futebol. O Maracanã poderia ser uma usina
de energia – ainda que com potência modesta – que além do benefício direto de
gerar eletricidade, funcionaria também como elemento indutor de mais pesquisas e
investimentos em energia solar no Brasil.
E quem disse que o custo de instalação de um projeto como esse só seria possível com recursos públicos? Se houvesse vontade política para promover inovação tecnológica no setor energético usando o novo Maracanã como garoto-propaganda, seria perfeitamente possível sondar o interesse de grandes empresas com know-how em energia solar que aceitassem instalar os equipamentos fotovoltaicos a custo zero, sem ônus para o governo. E o que essa empresa ganharia em troca? O direito de explorar a imagem do Maracanã como “estádio solar” graças à tecnologia oferecida pela empresa.
Alguém duvida que a imagem aérea do estádio tanto na Copa de 2014 quanto nas
Olimpíadas de 2016 alcançará bilhões de telespectadores pelo mundo? É mídia
espontânea, super-exposição positiva de imagem, e tudo aquilo que um bom
negociador não levaria mais do que alguns minutos para convencer o investidor a
botar a mão no bolso e bancar a ideia.
Com recursos públicos ou privados, o certo era fazer. Não basta instalar
alguns coletores solares para aquecer a água do banho usadas pelos atletas nos
vestiários. É pouco. Se os responsáveis pelo projeto do Maracanã marcaram um gol
contra desprezando o sol, os estádios de Pituaçu, em Salvador, e Mineirão, em
Belo Horizonte, terão a energia solar como aliada para a produção de energia
elétrica. Acorda Rio! Maracanã sem energia solar é como o Rio sem praia.
Infelizmente os cariocas continuarão usando o sol apenas para se
bronzear.Símbolo da sustentabilidade por suas belezas naturais e por sediar
grande conferências ambientais da ONU, o Rio de Janeiro continua com um Maracanã
aquém do que merece.
*Este artigo foi publicado no jornal O Globo, 27/10/11
http://www.mundosustentavel. com.br/2011/10/novo-maracana- ja-nasce-velho/
E quem disse que o custo de instalação de um projeto como esse só seria possível com recursos públicos? Se houvesse vontade política para promover inovação tecnológica no setor energético usando o novo Maracanã como garoto-propaganda, seria perfeitamente possível sondar o interesse de grandes empresas com know-how em energia solar que aceitassem instalar os equipamentos fotovoltaicos a custo zero, sem ônus para o governo. E o que essa empresa ganharia em troca? O direito de explorar a imagem do Maracanã como “estádio solar” graças à tecnologia oferecida pela empresa.
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